quarta-feira, 16 de março de 2011

Todo carnaval tem seu fim...

E a vida fica assim: como toda quarta-feira de cinzas.
O céu fica cinza, o chão nem existe, as portas se fecham, as janelas, violentas, batem, do futuro não se espera, o presente machuca e o passado acolhe, me escolhe e chama.
Ausência que dói, que sufoca, que para o mundo, o tempo, que escurece todo aquele colorido. Deixa uma nuvem, bem aqui, no coração.
Meu carnaval acabou sem querer, por obrigação, sabe? Por falta de samba, justo quando eu tinha uma orquestra toda em mim, justo quando eu só queria viver e morrer ouvindo essa música.
Talvez uma melodia gostosa comece a tocar, quem sabe...Não igual, nunca igual. Essa letra era a forma perfeita pra mim, pra mim e só pra mim. Perfeita e cheia de erros e castigos e pecados e dor e prazer, dor com prazer.
Agora que acabou, tô preparando meu ouvido pra gostar do que não quer e pra esquecer o quanto aquele som é que era o bom. O quanto aquele era o som ruim.
Por enquanto, antes de acreditar de novo, de querer de novo, de viver de novo, vou tirar as máscaras, jogar todas no lixo, vou lavar o rosto, trocar as roupas de festa, vou colocar as minhas de novo e lembrar, tentar lembrar, procurar por mim, perdida aqui, no que ainda sobra de você. Vou me desfazer das fantasias que já não servem mais, por conhecer de outros carnavais, não participo dos próximos.
O buraco vai fechar e eu vou entender que esse carnaval começou no dia errado, fadado a acabar, a música tocou ao contrário, a quarta-feira chegou mais cedo, chegou mais tarde. Escureceu tudo ao redor, anunciou, assustou, libertou e foi embora, como muita coisa tem ido.

Camila

segunda-feira, 7 de março de 2011

O preço que se paga às vezes é alto demais

Nada e um monte de coisas. Perdida, perdendo e perdendo tempo. Entregue. Na solidão, na multidão, algo que não se explica, que não se encaixa.
Pensamentos soltos e presos, velhas ideias arraigadas em velhas certezas, e tolas, que fazem com que um pé fique no passado e um aqui, quase no presente.
(In)certeza de que só se ama uma vez e que o preço que se paga é alto demais.
Uma doçura explosiva e cansada, de mim, de tudo, das velhas e infiéis histórias, dos velhos e infiéis desejos, das manias, recentes, presentes, insistentes.
Nada que valha tanto a pena, mas muito do que merece o melhor e não tem encontrado. Porque não deixa, porque adia, espera, ilude e aborta, um filho atrás do outro.
Disposição pra pagar todos os pecados, menos o de acreditar que só se vive uma vez. Por mais cabeça dura que seja, eu sei que há vida sempre e mais, muitas e muitas vezes e que ela começa em mim. Lá no fundo e onde somente eu enxergo. E é em mim que está o açúcar pro meu café e todos os pares pra minha dança.


Camila

sábado, 5 de março de 2011

A dor e a delícia

Tenho vivido como se meu corpo fosse todo feito de estômago e eu tivesse morrendo de fome todo tempo. Um vazio profundo por todas as partes e em inúmeros momentos, na solidão ou na multidão.
E aí? E aí sou eu que pergunto. Como será que faz pra sair disso? O que será que falta, quando parece que já tem tudo. Porque pensar na minha vida, nos meus supostos problemas, na minha merda de vontade que nunca é satisfeita, me deixa tão triste, triste, triste e triste. E eu já to cansada de disfarçar essa fome e ninguém mais acredita que eu não sinta. Tá tão nítido, qualquer um percebe, até eu mesma percebi.
Tem mil pessoas falando por mim, pra mim, de mim, de você e me deixando maluca. Maluca, sabia? Porque o problema não é mais acreditar, saber, querer, odiar ou amar. O problema é bem mais embaixo, queridos, o problema é que mesmo que eu saiba o que eu preciso, e olha que eu não sei, eu não tô sabendo fazer. Eu não sei, ué. Será que era pra eu ter vergonha disso?
Mas eu já tenho tanta coisa, não tem espaço pra ficar sentindo vergonha como uma virgem de quinze anos. Eu nem tenho mais quinze anos, tô quase chegando aos vinte e dois e aqui: perdida nessa vida e nesse mundo e nesses sentimentos e em mim, principalmente em mim.
Tenho infinitos e infinitos momentos cheios da mais perfeita consciência e de prazer, de libertação, de alegria, de paixão, de certeza, de desprendimento e de paz, muita paz. Entretanto, há outros infinitos momentos de perturbação, inquietação, medo, angústia, ansiedade, nos quais eu me sinto uma, praticamente, fugitiva. De mim, das minhas atitudes, do que eu ouço, vejo e de tudo que eu preciso fazer. Fujo, literalmente até, pensando que assim posso me manter segura. Só que eu estou em mim, né?! E daqui eu não saio, moro sozinha e acompanhada, por todos esses infinitos, infinitos e infinitos sentimentos.
É lógico que eu sei que é um desperdício, que eu devia agradecer mais e dar um jeito na vida, ficar mais feliz do que triste e tudo mais, você já falou e eu mesma sei, o problema aqui não é lucidez. Lúcida eu, ainda, tô, saber eu sei, e também acho insustentável.
Ainda não é hoje que a minha fome vai passar, eu tô comendo a coisa errada e não tô encontrando a certa pra vender.
Só que quem sabe uma hora dessas, sem muito procurar, sem muita esperança, eu me deixe preencher, não é?
Já fiz isso algumas vezes e, espero e acredito, ainda lembro o sabor.

Camila